terça-feira, 10 de abril de 2012

Uma interessante mensagem para começar:

"Há dias, Pedro Santos Guerreiro contou uma história engraçada na Sábado: um gestor estrangeiro a viver há muito tempo em Portugal, diz que os portugueses são melhores no excel, mas os espanhóis são muito melhores no powerpoint. Ou seja, nós até podemos fazer coisas com qualidade, mas eles sabem projectar uma imagem, uma marca, um pedigree. Bate certo, sim senhor. E agora pergunto: por que razão os portugueses são tão maus nesse powerpoint? Porque ser-se bom no powerpoint implica orgulho naquilo que se está a powerpointar. Ora, como se sabe, o português, para ser português, não pode ter orguho de Portugal. O português, para ser português em condições, tem de xingar Portugal, a cada momento. Um português a fazer um powerpoint positivo sobre Portugal é uma contradição em termos. A ética queirosiana da choldra e do "só nestes país" assim o exige.

Um exemplo. Há dias, eu e uma certa-e-determinada-pessoa-da-minha-família estávamos a ver o telejornal da TVE. Às tantas, aparece uma reportagem sobre as línguas mais procuradas pelos jovens espanhóis. Entre elas, está a língua portuguesa. De imediato, a minha doce companhia activou o ABS queirosiano: "oi, mas eles são parvos? Mas querem o português para quê?". Ela não pensou. É assim o instinto queirosiano: bloqueia qualquer coisa de positivo sobre Portugal. Portugal é importante numa coisa? Ná, não pode ser. Portugal é lider num dado produto? Ora essa, é líder porque mais ninguém faz esse produto, pá, da mesma forma que mais ninguém joga hóquei em patins. Se tivesse pensado 5 segundos,a  minha doce companhia teria chegado a três conclusoes: o português é a sexta língua mais falada no mundo; o português é a língua de duas das mais importantes economias emergentes (Brasil e Angola); o português é a língua de um dos principais parceiros de Espanha, que, por acaso, está mesmo do outro lado de Badajoz. Não por acaso, o Expresso do dia seguinte (28 de Janeiro) trazia uma entrevista com um cromo da gestão indiano, que dizia assim "a língua portuguesa é um veículo da globalização".

Este incómodo epidérmico que o português sente por Portugal é aquilo que impede a criação de uma boa imagem Portuguesa. Por vezes, Portugal levanta-se em peso contra um estrangeiro que ousou insinuar que Portugal é um país menor. Não percebo porquë. A narrativa preferida dos Portugueses, da cátedra à tasca, é aquela que diz que Portugal é o Marrocos de cima, que Portugal é semi-africano, que Portugal não é bem europeu, que isto é uma choldra, que isto nunca mudou. Os portugueses nunca serão bons no powerpoint patriótico, porque isso seria a negação do que é ser-se português com pedigree queirosiano. É o poder da narrativa".

Henrique Raposo

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